UM CAMPEÃO DE VERDADE...
Supremo em 2011, Vettel atinge maturidade na F1 com bicampeonato
PAULA GONDIM [@gondimpaula]
de Belo Horizonte
Aos 24 anos, três meses e seis dias, Sebastian Vettel escreveu mais um capítulo na história da F1 neste domingo (9), ao quebrar o recorde pertencente a Fernando Alonso e se tornar o bicampeão mais jovem da história da categoria. E, se o primeiro título, em 2010, serviu para o alemão carimbar seu nome entre os grandes do automobilismo, este segundo mostra que o sucesso de Vettel não é fruto apenas de um ótimo carro e uma excelente equipe. É, enfim, a consagração de um talento precoce.
Vettel começou sua carreira no automobilismo como tantos outros pilotos: no kart. Aos sete anos, dava as primeiras voltas nos circuitos alemães – ao mesmo tempo em que Michael Schumacher, hoje seu rival, conquistava seu primeiro título na F1. Mais tarde, o próprio Vettel declararia que Schumacher era um de seus heróis da infância.
O pulo para as categorias de fórmulas ocorreu em 2003, quando Vettel estreou na F-BMW Alemã. Mais uma vez, a precocidade que dá o tom de sua carreira deu as caras e, em seu ano de estreia, Sebastian foi vice-campeão da categoria, apenas para conquistar o título já na temporada seguinte e de forma arrasadora: o alemão venceu 18 das 20 corridas do ano. A essa altura, Vettel já tinha aparecido no radar da BMW, que assinou um contrato com a jovem revelação. O apoio da montadora alemã, que seria a primeira casa de Vettel na F1, veio para se juntar ao apoio da Red Bull, existente desde a estreia do piloto nos monopostos.
A conexão de Vettel com a empresa de bebidas serve muito bem às duas partes. A Red Bull mantém o perfil de empresa jovem e “descolada”, e, por isso, apóia atletas e ações esportivas que façam jus a essa imagem. Vettel, que até hoje mantém seu jeito despojado e moleque, é um dos melhores exemplos desse “espírito” rubrotaurino. Em contrapartida, não foi nada mal para o alemão contar com o suporte de uma empresa já consolidada no meio esportivo.
Na F3 Europeia, mais um título, mais um desempenho impressionante para corroborar toda a atenção dispensada à jovem promessa. Na segunda metade de 2005, o piloto teve sua primeira oportunidade de guiar um carro de F1 e participou de um teste de meio de temporada com a Williams, à época parceira da BMW na categoria máxima do automobilismo. O teste foi uma forma de recompensa pelo grande sucesso na F-BMW, mas, Vettel marcou o tempo mais lento do dia.
2006 é o ano da estreia definitiva do agora bicampeão mundial no mundo da F1. A BMW rompeu seu vínculo com a Williams e constituiu sua própria equipe, tendo Jacques Villeneuve e Nick Heidfeld à frente dos carros alemães. Uma série de conflitos e resultados aquém do esperado deterioraram a relação entre Villeneuve e o time germânico. O canadense foi enfim mandado embora no meio da temporada, abrindo espaço para Robert Kubica e, de quebra, para Vettel, que passou a ocupar a antiga função do polonês, de piloto reserva.
Assim como em todas as categorias que passou, Sebastian rapidamente impressionou a F1 com ótimos desempenhos durante os treinos livres. A chance de participar de um prova veio em 2007, após o grave acidente sofrido por Kubica em Montreal. O polonês bateu forte no muro do circuito canadense e ficou incapacitado de participar da corrida seguinte, nos EUA.
A solução óbvia foi colocar o jovem alemão para ocupar o assento da BMW. Foi na condição de substituto que Vettel conquistou seu primeiro ponto na F1, depois de terminar o GP dos EUA em Indianápolis na oitava posição. Este, inclusive, é outro recorde de precocidade: com 19 anos e 349 dias, Sebastian foi o piloto mais novo a marcar pontos em uma prova de F1.
A partir daí, o vínculo com a Red Bull – que a essa altura já possuía uma equipe própria - falou mais alto, e o alemão entrou no lugar de Scott Speed na Toro Rosso, espécie de escuderia satélite do time principal. Em sete corridas disputadas pela equipe de Faenza ainda em 2007, Vettel pontuou apenas na China – quarto lugar – mas esteve muito perto de conquistar o primeiro pódio em um memorável GP do Japão. Debaixo de chuva, o piloto se mantinha na terceira posição, mas um choque com seu futuro companheiro Mark Webber tirou ambos da corrida. Após o acidente, o australiano chegou a declarar em uma entrevista para um canal de televisão inglês: “Ele é um garoto, certo? Garotos sem muita experiência começam fazendo um bom trabalho, mas depois desandam.” O que ironicamente acabou sendo o contrário.
Após a iniciação em 2007, 2008 foi o ano da primeira vitória de Vettel na F1. Mais uma vez, a cantilena se repetiu e mais um recorde foi quebrado: o de piloto mais novo a subir no ponto mais alto do pódio. Vettel liderou a maior parte do GP da Itália para dar à Toro Rosso sua primeira e única vitória até agora na vida. Seu passaporte para a equipe principal foi carimbado com honras e Vettel estreou pela Red Bull no ano seguinte no lugar de David Coulthard, que, após acompanhar a equipe de Milton Keynes desde sua criação, estava se aposentando.
Correndo ao lado de Webber, Vettel rapidamente conquistou a Red Bull com seu jeito despojado. A temporada de 2009 viu o domínio inicial de Jenson Button e sua surpreendente Brawn. No entanto, a equipe estreante ficou estagnada após a metade da temporada, abrindo espaço para que Vettel se tornasse o nome do fim do ano. O alemão venceu quatro corridas, inclusive a última do ano, em Abu Dhabi, e assegurou o vice-campeonato.
Levando em consideração o histórico de Vettel, a conquista do título em seu segundo ano de Red Bull não é exatamente surpreendente – apenas repete o padrão visto nas categorias de base. O campeonato ficou em aberto até a última prova, com Sebastian, Fernando Alonso e Mark Webber com chances de vencê-lo. A disputa interna entre Vettel e Webber chamou a atenção: os dois pilotos não aliviaram em momento algum, chegando inclusive ao polêmico choque ocorrido entre os dois no GP da Turquia, uma espécie de reedição daquela primeira colisão em 2007 – com a diferença que o australiano conseguiu voltar para a pista.
Foi o início da uma rivalidade silenciosa entre os dois pilotos rubrotaurinos. Do lado do time, a Red Bull insistiu em manter a filosofia contrária ao jogo de equipe, quando muitos esperavam que o time tomasse partido de um dos pilotos e acalmasse os ânimos de ambos dentro das pistas. Ao contrário, a equipe de Milton Keynes deixou a luta rolar solta, e a recompensa veio com o triunfo de Vettel aliado à conquista do campeonato de construtores. No final das contas, o anti-jogo de equipe deu um lustre extra no título da Red Bull, visto que a Ferrari, mesmo após o infame episódio do “Fernando is faster than you” em Hockenheim não foi capaz de colocar seu piloto no topo da tabela.
Já campeão, Vettel se mostrou incrivelmente maduro em 2011. Os erros cometidos em 2010 desapareceram e, se as corridas desta temporada bateram recordes de ultrapassagens devido à introdução da asa móvel, uma característica foi constante em todas as provas: o total domínio da Red Bull e do alemão, especialmente. E ainda mais dentro da equipe austríaca, com o total domínio de Vettel sobre Webber. O australiano minguou ao lado do companheiro e, enquanto Sebastian desbancava todos os adversários, Mark ficou para trás, duelando com os pilotos da McLaren e Ferrari.
Numericamente, foi uma caminhada impressionante rumo ao título. 12 pole-positions e nove vitórias em 15 corridas. No início do ano, Vettel começou vencendo na Austrália e na Malásia. Viu Lewis Hamilton vencer na China, mas voltou ao topo do pódio na Turquia, na Espanha e em Mônaco, enquanto o segundo e o terceiro lugares no pódio se alternavam entre seu companheiro Webber, a dupla da McLaren e Alonso.
No Canadá, um segundo lugar amaríssimo. Debaixo de um temporal, a corrida foi longamente interrompida, até que foi decidido completar as voltas finais atrás do safety-car. O alemão estava na liderança, com Jenson Button logo atrás. Na última volta – a única sem a presença do carro de segurança, Vettel errou na saída da segunda chicane e escapa do traçado. Foi o suficiente para a vitória cair no colo de Button.
Nas corridas que antecederam o recesso de agosto da F1, vitórias de Alonso, Hamilton e Button. Os mais apocalípticos se apressaram em dizer que o reinado alemão havia acabado, que a Red Bull tinha sido alcançada pelas rivais. Se por um lado, Webber deixou de ser companhia frequente de Vettel no pódio – mostrando que, de fato, as outras equipes começavam a se equiparar à de Milton Keynes -, Vettel mostrou que seu sucesso também é fruto do piloto, e voltou a vencer: Bélgica, Itália, Cingapura.
Em Suzuka, Sebastian Vettel conquistou o bicampeonato com quatro provas de antecedência, uma prova de sua evolução como piloto. Vettel pode ser ainda muito jovem, mas mostrou que não é mais o garoto “sem experiência” que bateu em Webber em 2007.
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