ENTREVISTA DO DR. EDUARDO LEMOS AO JORNAL O MOSSOROENSE
"Macau ainda vive em meio a um clima de instabilidade"MÁRCIO COSTA
Editor do Regional
A série de entrevistas dominicais segue hoje com a abertura da seqüência de abordagens na cidade salineira de Macau. Na retomada das entrevistas, encontra-se o médico Eduardo Lemos, que candidatou-se a prefeito nas duas últimas eleições realizadas no município litorâneo.
OM-Como o senhor avalia o atual cenário político da cidade de Macau?
EL - A cidade de Macau ainda vive em meio a um clima de instabilidade política, em função de pendências jurídicas ligadas aos processos eleitorais. Em 2004 foi comprovado que a eleição contou com irregularidades, que acabou culminando na cassação de Flávio Veras, e no segundo pleito, a partir de uma liminar, foi permitido que o mesmo concorresse, sem que os méritos anteriores tivessem sido julgados, gerando um clima de instabilidade política que mantém a cidade dividida. Do ponto de vista administrativo isso tem sido prejudicial porque tem sido utilizado como argumento para justificar a inércia administrativa. A cidade de Macau está absolutamente parada em todos os sentidos. A atividade básica em setores como educação e saúde encontram-se na sarjeta muito mais pela falta de programação, planejamento, visão administrativa e compromisso, detalhes que resultaram neste caos em que a cidade vive hoje. Existe uma insatisfação generalizada a partir da forma como a cidade vem sendo governada. O prefeito afirma que é culpa da Justiça, mas a Justiça eleitoral não impede que o município seja governado pelo seu adversário. Na verdade existe um descompromisso com a cidade.
OM - O prefeito Flávio Veras foi cassado e reconduzido à prefeitura após vencer uma eleição complementar. Este processo foi justo?
EL - Na verdade, em 2004 fui candidato contra todas as forças políticas de Macau. Na ocasião, Flávio candidatou-se com o apoio do ex-prefeito José Antônio de Menezes, da Câmara Municipal e de toda estrutura da prefeitura, e ainda sim fui para as ruas com propostas. Fiz uma campanha absolutamente positiva, mostrando à cidade que existia uma perspectiva de um governo melhor. Quando saí pras ruas com este discurso, mostrando que R$ 70 milhões ao ano poderiam ser revertido em benefícios para a cidade, afirmando que a prefeitura não pertencia ao prefeito, mas sim à cidade, foi aí que a população acordou para a realidade. Fizemos uma campanha belíssima, andei casa por casa, numa fórmula nova de fazer política. Não fiz promessas individuais, mas convenci as pessoas de que poderíamos modificar aquele cenário. Cresci assustadoramente, metendo medo na classe dominante. Imagine: todos os políticos da cidade e toda a Câmara de Vereadores perderem para alguém que tinha apenas um grupo de amigos. Qual foi a reação imediata destas pessoas? Despejaram dinheiro abusivamente. Partiram para o tudo ou nada. Isso não é apenas um discurso meu. Foi comprovado pela Justiça que existiu abuso do poder público, o que acabou por culminar na cassação de Flávio. Existiram provas testemunhais, documentais e materiais de que houve crime eleitoral. Estas irregularidades impediram que o resultado das urnas fizesse a vontade da população. No pleito complementar foram utilizados os mesmos métodos. Acho, na minha ótica, que apesar da eleição ter sido de apenas 27 dias, bateu a disputa de 90 dias.
OM - Macau iniciará o acompanhamento de três novos julgamentos. O que poderá se esperar da avaliação destes processos?
EL - Eu tenho uma relação estreita com o governo do Estado, com a governadora, e sempre reverti esta amizade em obras para a cidade. No primeiro mandato, Wilma fez uma administração como nunca foi feita por outros governadores. Fui o interlocutor deste processo, onde foram encaminhados passos importantes para o saneamento básico, reforma das escolas, criação da Central do Cidadão e recuperação das estradas. No segundo mandato estamos com o mesmo propósito. Hoje continuo muito mais preocupado em gerar benefícios para Macau do que com a questão jurídica, que está nas mãos dos meus advogados, mas acredito na Justiça, e baseado no que ela tem em mãos, creio que ela saiba decidir qual o melhor caminho. Vamos aguardar.
OM - O senhor será candidato em 2008, caso seja confirmada uma nova eleição complementar?
EL - Acho que só podemos definir um caminho depois que a Justiça se posicionar. Precisamos avaliar dois aspectos: primeiro é a interação com o governo Wilma, que serve de trampolim para que as ações da união cheguem a Natal, e o segundo é o aspecto em que envolve o ponto de vista político, que passa pelo fato de eu ter me candidatado a prefeito de Macau e ter obtido 45% dos votos, o que me torna um legítimo postulante a prefeito. Isso é natural. Agora, as decisões políticas passam pelas avaliações de grupos, de pessoas que me acompanham, do meu partido e dos partidos aliados. No momento oportuno decidiremos o melhor a ser feito.
OM - O senhor foi candidato em duas oportunidades a prefeito de Macau. O que faltou para garantir a vitória nestas disputas?
EL - Eu não posso dizer o que faltou para que eu vencesse. Eu posso afirmar o que sobrou no adversário para tentar ganhar. Não abro mão de convicções em nome de resultados. Isso é um posicionamento pessoal. Passei para as pessoas no palanque ou nas ruas a verdade. O que transmiti durante as campanhas é o que eu sou como pai, esposo, médico e pessoa do dia-a-dia. Sobrou do lado de lá abuso do poder econômico. Não permitiram uma disputa justa. Na segunda eleição por exemplo, fui acossado de madrugada, às 2h, quando saia de Macau para Barreira com minha esposa, que estava com 7 meses de gravidez, fui perseguido por um grupo de pessoas, que foram pagas por Flávio. Elas não eram de Macau. Encapuzadas e provavelmente armadas. Isso retrata uma campanha que não foi de discussão. Não fui um mercador de sonhos. Fui para as ruas mostrar o que se deveria fazer. Fui muito real com as pessoas. Não acho que tenha faltado muita coisa em mim e nem no meu grupo. Não abrimos mão da verdade. Trabalhei exaustivamente e exclusivamente com a verdade. Não abri mão da verdade em nenhum momento. Fui, durante as campanhas, um verdadeiro defensor das verdades. Não sou um político profissional, sou apenas um homem movido por idéias e pela perspectiva de fazer o melhor pela minha cidade.
OM - O senhor hoje tem condições jurídicas de ser candidato a prefeito de Macau?
EL - Não existe nada contra mim. Sou absolutamente elegível. Posso ser candidato a qualquer coisa. Não existe nenhum impedimento legal. Existe sim contra Flávio Veras, ele encontra-se inelegível em última instância.
OM - Diante da nova ordem política de Macau, a vereadora Odete Lopes surge como uma candidata que pode receber o apoio do governo do Estado. Esta realidade se configura como ameaça ao seu projeto?
EL - Nesta nova ordenação política temos como aliados dois vereadores, Haroldo e Odete. Na eleição para o governo do Estado estivemos todos no mesmo palanque e fizemos juntos o mesmo esforço para eleger Wilma. Eles são aliados da governadora, assim como nós, portanto não os vejo como ameaça e sim como companheiros.
OM - Caso a vereadora garanta a sua candidatura a prefeito de Macau, ela receberá o seu apoio?
EL - Como companheira sim. Agora isso é muito recente. Eu sei o que o meu partido quer para Macau. Nós já conversamos inúmeras vezes, mas somos todos aliados. Hoje acho que a preocupação dos vereadores que estão comigo é a mesma dos partidos coligados: viabilizar um plano de governo para Macau. No momento ideal decidiremos.
OM - O nome do ex-prefeito José Antonio é corriqueiramente citado como pré-candidato a prefeito em 2008. O senhor acredita nesta candidatura?
EL - Eu tenho uma leitura muito objetiva disso. Eu acho que José Antônio, que já foi prefeito duas vezes, é legítimo que ele queira pleitear o terceiro mandato, é natural. Só que hoje em Macau existe uma polarização muito grande gerada pelo próprio cenário de indecisão. Hoje é muito comum ouvir os nomes de Eduardo e Flávio. Os aliados de Zé, que estiveram com ele no governo, estão na prefeitura sob a orientação de Flavio. Se Zé Antônio pleiteia uma nova candidatura, terá todo um caminho para organizar e fazer as alianças que achar necessário e possível. Eu acho que uma terceira força em Macau é difícil.
OM - O senhor acha então que a próxima disputa para a prefeitura de Macau contará apenas com dois candidatos?
EL - Eu acho que sim. Será uma disputa polarizada. Acho que Macau não vai suportar um terceiro nome. Mas é como falei, falta muito tempo. Na verdade estou muito como telespectador. Vamos esperar as decisões para saber qual o melhor rumo político a ser seguido
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