NEM CARA NEM COROA...
E se a moeda cair em pé?O magistral cronista da grande área, Armando Nogueira, afirmou certa vez que não se ocupava de política e por isso tinha dificuldades de entender jogadas oportunistas, sobretudo as praticadas além das quatro linhas dos gramados de futebol. Ao contrário dos cientistas da bola que, a cada quatro anos, em época de Copa do Mundo, escrevem tratados antropológicos sobre a paixão nacional, os "doutores da política" atuam com mais freqüência, haja vista que as eleições acontecem sempre a cada dois anos. No Rio Grande do Norte, o interesse popular pelos conchavos politiqueiros supera o gosto pelo esporte bretão, que é fonte de inspiração dos discursos do nosso atual Presidente da República.
Quando o assunto envolve disputas, é valido recordar a história do dia em que a moeda caiu em pé. A partir de 1930, quando o extinto Paulistano Futebol Clube desativou o seu departamento de futebol, os títulos de campeão paulista eram conquistados pelo Corinthians ou Palmeiras (então Palestra Itália). O São Paulo havia vencido apenas em 1931. Em 1943, antes de começar o campeonato, aconteceu uma reunião na Federação Paulista com os representantes dos grandes clubes, que na ocasião, arriscaram previsões sobre quem seria o campeão. Palmeirenses e corintianos não aceitavam a quebra da hegemonia e, para menosprezar os outros clubes, chegaram a um acordo: uma moeda seria jogada para cima. Assim, se desse "cara", o campeão seria o Palmeiras, e com o resultado "coroa", o Corinthians garantia o título. O são-paulino protestou: "E como fica o São Paulo?". Os dois responderam: "O São Paulo só será campeão se a moeda cair em pé!". Naquele ano, o Tricolor paulista, que tinha Leônidas da Silva, faturou o campeonato e quebrou aquela hegemonia para sempre. Por este motivo, a torcida são-paulina comemorou o título desfilando com um carro alegórico que simbolizava uma moeda em pé.
Ao traçarmos um paralelo da façanha do São Paulo no passado, com o atual cenário político no RN, marcado pela aliança inusitada entre os grupos da governadora Wilma de Faria e do senador Garibaldi Filho, observam-se algumas semelhanças. Em ambos os casos, o "acordão" foi determinado entre os dois grandes líderes da ocasião e a manutenção da hegemonia era tida como certa. Porém, o resultado inesperado torna-se possível a partir de um protesto contra as forças dominantes. Resta saber se, como na crônica real do universo futebolístico, a disputa pela Prefeitura do Natal comporta ainda o surgimento de um personagem destemido, que faça a "moeda" da máquina pública cair, mas não em pé, e sim no abismo da descrença popular. Aos corajosos, bola pra frente, que o jogo já começou!
Muriu Mesquita
Jornalista em Natal
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