08 julho 2013

ISSO É UM ABSURDO...EM PLENO SÉCULO 21...!!!




“Estou sendo processado por escrever um texto de ficção”, diz jornalista sergipano

Luiz Gustavo Pacete | 18/12/2012 12:30
 
 
O jornalista José Cristian Goés (41) terá de responder dois processos por escrever um texto ficcional. O desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe, Eds...on Ulisses, deduziu que o artigo “Eu, o coronel em mim”, publicado em maio, faz menção a ele quando fala sobre “coronéis do tempo da escravidão”.

Divulgação
José Cristian Goés
 

Colunista do portal Infonet e funcionário do INSS, Goés acumula na carreira mais de oito processos, todos com decisão favorável ao jornalista. Em entrevista à IMPRENSA, ele aproveita para falar da situação dos colegas no Sergipe e a dificuldade de atuar em um ambiente de “coronelismo, nepotismo, lobby e corrupção”.
 
O jornalista também admite que não possui condições de arcar com as despesas relacionadas aos processos. Já solicitou ajuda a entidades internacionais como a Repórteres Sem Fronteiras (RSF). IMPRENSA entrou em contato com o desembargador responsável pelos processos e aguarda retorno.
IMPRENSA - Você está sendo processado por um texto ficcional?
José Cristian Góes - Sim. O desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe, Edson Ulisses, ingressou com dois processos – um cível e um criminal – em razão de um texto ficcional e em primeira pessoa, publicado em meu blog. No texto faço uma espécie de confissão onde um coronel imaginário dos tempos de escravidão que se vê chocado com o momento democrático, que o obriga a manter uma aparência de democrata. São processos judiciais sem o menor cabimento, sem sentido e sem nenhum razão de ser. No artigo não tem indicação de local, de data, cargo, função e muito menos nomes e nem características de ninguém. 
 
O que ele alega? Você já foi notificado?
O desembargador, através de seus dois advogados, pede inquérito policial e pena de prisão de até quatro anos por injúria e difamação. E outro processo cível que ele pede o pagamento de indenização por dano moral a ser fixada pelo juiz e o pagamento de R$ 25 mil pelas custas do processo. Imaginou o desembargador Edson Ulisses e seus advogados que quando eu escrevi o texto ficcional estava, na verdade, fazendo críticas diretas ao seu cunhado, que é o atual governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), que por sinal, foi quem o nomeou para o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça. Assim, quando eu escrevi o seguinte: “chamei um jagunço das leis, não por coincidência marido de minha irmã”, supôs o desembargador de que eu estaria fazendo referência ao cargo de desembargador e a ele pessoalmente.
Trecho do processo que alega calúnia e difamação


Você já foi vítima de processos anteriores?
Sim, mas esse é o primeiro de um membro do Judiciário. Acho que ao todo – nesses 17 anos de profissão – já carrego uns oito processos. Todos os outros processos foram por conta de reportagens ou artigos e todos objetivavam, como esse, atacar o direito à liberdade de expressão e de imprensa. Os últimos foram de uma poderosa construtora regional que ameaçou invadir terras e expulsar pescadores tradicionais que habitavam na área há mais de 100 anos e o outro foi em razão de um artigo que fiz convidando à sociedade local para um ato que lembrou os 30 anos do assassinato do jornalista Vladimir Hezorg, mas o sindicato dos donos dos veículos de comunicação locais interpretou erradamente que o ato era contra as empresas. Jamais perdi uma ação, jamais fui condenado e nem fiz acordos. Todo meu trabalho, investigativo ou não, é cercado de inúmeras e fartas provas incontestes. 
 
Suas colunas possuem histórico de tratar de temas delicados?
De certa forma sim. Veja, vivemos no menor Estado do País. As relações sociais aqui são permeadas por profundas relações de poder. Há casos absurdos de coronelismo, nepotismo, lobby e corrupção. Todo gira em torno do Governo e de grupos políticos de ilusoriamente se revezam em seu comando. O quadro tem melhorado bem pouquinho, mas a essência permanece. Boa parte da imprensa local é extremamente depende financeiramente desse poder e se vê presa a essa lógica perversa para a democracia. Liberdade de expressão e de imprensa aqui é presente de Papai Noel. Então, não é que eu aborde em meus textos temas polêmicos. 

Que providências você está tomando? Quem está pagando seus advogados? Alguma entidade jornalística local está apoiando-o?
Como jornalista e servidor público não tenho recursos financeiros. Então, sou obrigado a recorrer aos vários amigos que são advogados e que, gratuitamente, estão cuidando de minha defesa. Sempre foi assim. Nesse caso dos dois processos do desembargador tem ocorrido várias manifestações de apoio da sociedade local porque as pessoas percebem corretamente que os processo são objetivos contra mim. No entanto, eles podem configurar, antes de tudo, uma tentativa de ataque direito à liberdade de expressão, um sagrado direito da vida e da Constituição Brasileira. 

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