ESSA É A MACAU QUE EQUERREMOS???
Macau gasta fortuna com festas e Clínica da Família pode fechar por falta de material
Data: 25 agosto 2012 - Hora: 17:03 - Por: Ciro Marques
O povo de Macau pode reclamar do investimento em saúde pública, mas não do que a Prefeitura gasta com festas. Afinal, neste ano, depois de gastar um alto valor com o Carnaval, a gestão municipal se prepara para um novo evento: a Festa do Sal 2012. São mais de R$ 360 mil gastos com o “carnaval fora de época”, enquanto a unidade hospitalar Clínica da Família corre o risco de fechar, justamente, pela falta de recursos para atender a população.
O Jornal de Hoje teve acesso aos contratos firmados pela Prefeitura de Macau para a realização da Festa do Sal deste ano. Só para a contratação de empresa especializada em locação de palcos para utilização nos show (agendados para os de 1º a 9 de setembro), serão gastos R$ 72 mil.
A contratação de empresa especializada em locação de equipamentos de iluminação consumirá mais R$ 49 mil. Para a contratação de outra empresa, de locação de “estruturas diversas para utilização na Festa do Sal”, serão pagos mais R$ 158,6 mil. A Prefeitura de Macau ainda vai gastar mais R$ 60 mil para o fornecimento de refeições para atender ao pessoal das equipes de apoio técnico e outros R$ 20,7 mil para garantir a segurança do evento com vigilância não armada.
É importante ressaltar que os valores dos contratos disponibilizados pela Prefeitura não contemplam o cachê pago as bandas que vão se apresentar nos shows – e esses acabam por representar o maior gasto na maioria das festas organizadas por prefeituras municipais.
Por sinal, até o momento, já estão confirmadas atrações como Solteirões do Forró, Dorgival Dantas, Forró Pegado, Netinho, Forró da Pegação, Banda Grafith, Cavaleiros do Forró e Belo. Segundo o site Ministério do Forró, a Prefeitura de Macau anunciou que estava negociando com os sertanejos Luan Santana, Michel Teló e Victor e Leo, mas apenas a última dupla teria acertado a presença.
Dessa forma, já dá para se imaginar o quanto será gasto com as atrações musicais. Victor e Leo, por exemplo, tem um dos cachês mais altos da música sertaneja.
E se repetir o que pagou as outras atrações em eventos organizados por ela mesma, a Prefeitura de Macau pode bater novamente a casa dos milhões gastos com shows fora de época. Afinal, o Forró da Pegação, por exemplo, recebeu R$ 67,2 mil para se apresentar na cidade no Carnaval de 2011. Cavaleiros do Forró, outros R$ 168 mil.
SAÚDE
Por outro lado, enquanto buscou Luan Santana, anunciou Victor e Leo e recebeu, durante os quatro anos de mandato, mais de R$ 170 milhões só do Governo do Federal de repasses da União, a Prefeitura de Macau esquece a saúde. Ou, pelo menos, da Clínica da Família de Macau. Segundo denúncias de moradores e funcionários da unidade médica, o local pode suspender todos os seus atendimentos por falta de material de limpeza e até papel toalha.
Isso, inclusive, não seria novidade. Há algumas semanas atrás a Clínica da Família fechou suas portas por alguns dias porque uma caixa d’água estava com vazamento, e nenhum fornecedor de material de construção estava vendendo a prazo para a Prefeitura. No Hospital, uma mãe teve que comprar uma extensão e um “T” elétrico para poder fazer um procedimento cirúrgico em sua filha.
Problemas estruturais que não prejudicam apenas os mais humildes macauenses. No último final de semana, o próprio prefeito teve que vir às presas para Natal, porque no Hospital Antonio Ferraz, não tinha medicamentos para poder estancar sua hemorragia.
Apesar da aparente falta de recursos para a saúde, Macau é uma das cidades potiguares que mais arrecadaram com os royalties provenientes do sal. Dos R$ 54 milhões que recebeu da União somente em 2011, cerca de R$ 28 milhões foram provenientes apenas disso.
COMUNICADO
A situação, por sinal, chega a ser tão grave que a própria unidade médica enviou para a Secretaria Municipal de Saúde um comunicado oficial afirmando que “até o momento o material de limpeza a ser usado na unidade estava sendo comprados por seus funcionários.
Porém a partir deste dia, elas informaram que não tem mais condição de comprar e pararam de comprar. Por motivo de não existir material necessário para o atendimento, foi decidido o cancelamento das atividades de fisioterapia, até que se cheguem papel toalha e material de limpeza”.
OUTRAS FESTAS
Vale lembrar que essa não é a primeira vez que Macau recebe grandes eventos festivos. Alias, não é a primeira vez nem mesmo nesta campanha eleitoral. No início do mês, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MP/RN) chegou a recomendar aos candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador que não realizem, promovam ou patrocinem eventos festivos com a finalidade, direta ou indireta, de promoção pessoal.
A ação foi consequência do 14º Megabrega que, aparentemente, teve o patrocínio do candidato à Prefeitura, Kerginaldo Pinto, e do prefeito da cidade, Flávio Veras, ambos do PMDB.
Aparentemente porque no cartaz da festa, é possível constatar o patrocínio de “Kerginaldo Pinto – Comércio de Água Mineral” e “Flávio Eletro – A loja das Grandes Promoções”, que supostamente têm como proprietários respectivamente Kerginaldo Pinto e seu apoiador, o prefeito Flávio Veras. Por sinal, a participação de candidatos a cargos eletivos e suas citações em eventos festivos, de maneira direta ou indireta, é uma das condutas vedadas pela Justiça Eleitoral.
Mais claros foram os gastos do prefeito Flávio Veras com as festas de Carnaval 2012 e 2011 e com a Festa do Sal 2011.
Os valores que ultrapassaram os milhões pagos só a atrações musicais, inclusive, são questionados pelo Ministério Público, que tentou até impedir que fossem feitos – mas foram. Não era para menos: a gestão de Flávio Veras contratou bandas por um preço bem mais alto do que os valores costumeiramente cobrados no mercado.
Um levantamento feito pel’O Jornal de Hoje com relação aos números das festas de 2011, por exemplo, comparando valor de mercado e quantia paga de cachê pela Prefeitura, demonstrou um sobrepreço de quase R$ 800 mil somando todas as atrações musicais que se apresentaram durante os quatro dias de Carnaval.
A contratação de bandas para festas diante as dificuldades financeiras que algumas prefeituras apresentam ensejou uma recomendação feita pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) em parceria com o Ministério Público para tentar frear a realização de festas financiadas por órgãos públicos. Sobretudo, em época de seca.
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